21/06/2010

o valor da convivência

O valor da convivência

Nesses últimos dias eu entendi que o equilíbrio é conquistado, que as palavras só fazem sentido quando expressadas de forma livre e espontânea, nada que pressionamos pode nos fazer tão bem, talvez possa até nos aprisionar junto aos nossos pensamentos. Felizmente tive a oportunidade de absorver idéias e sentimentos de forma natural, tanto nas expressões verbalizadas, quanto nas expressões sutis; as que me fizeram enxergar um mundo completamente livre e mais perto do que eu já vivo.

Estou falando da experiência bonita que vivi nas últimas duas semanas junto com o Rapha e os indígenas que vieram para o Encontro. Foram dias de exemplos, conhecimentos, idéias, intelectualidades, visões, diversões, encontros de fato. Pude me dar conta do quanto sou afortunada por ter chances de reconhecer a felicidade.

Os dias na acolhida serviram para trocas de saberes, curiosidades e interesses mais profundos (tirando o fato que que todos estavam lá também a trabalho) acerca da vida como ela realmente é. Eu trabalhei muito, reconheço e me alegro por isso. Dormi pouquíssimo mas não porque tive esta imposição, e sim porque tinha sêde de aproveitar cada momento com pessoas que eu sentia que teria algo para trocar comigo. Nisso eu estava certa, pois fiz trocas ricas, contei sobre a minha vida, mas soube muito da vida de todos que quiseram compartilhar; fui encantada por alguns olhares, fui protegida por vários sentimentos, fui nomeada, fui reoconhecida, tive meu trabalho reconhecido, fiz imagens belíssimas que gritam a essência do encontro dos indígenas com eles mesmos e comigo mesma.

Ao perceber as fotografias, identifiquei uma crescente na questão de proximidade e intimidade com a imagem, tudo isso porque a cada dia que passava, eles faziam com que eu me apoximasse mais e, com isso, a verdade dos sentimentos impregnados no momento aparecia com maior lucidez, me fazendo captar imagens mais fortes, íntimas e verdadeiras. Reconheço a evolução quando se trata de profundidade e aproximação com o foco da situação, no caso: os indígenas.

Sou muito agradecida por ter sido inserida no campo dos escritores indígenas e mais que isso, de ter sido incluída e totalmente aceita nesse universo, cujo círculo nunca se fecha para poder agregar mais pessoas com a vontade de expor as idéias e proteger o conhecimento do seu povo, a mais valioza jóia que eles podem carregar.

Alguns sentimentos chegaram até mim com surpresa, mas recebi e encarei com tranquilidade, amando cada minuto que eu tinha para viver cada história. Re-conheci pessoas incríveis com corações quase palpáveis, personalidades diversas e sentimentos fortes.

O Rapha me apresentou o universo e por isso sou agradecida pela confiança e alegro-me só de lembrar da sua felicidade em me ver aceita e completamente feliz.

O Cristino Wapichana foi o cuidado em pessoa, transformando-se pra mim numa bússola carinhosa que nos direciona e dá sentido ao que fomos fazer.

O Daniel Munduruku é a certeza, é a estrutura, é um homem de coração bom; várias vezes fez com que eu me sentisse bem à vontade por estar num acolhimento onde se tem a liberdade. Me ensinou bastante coisa: desde uma conversa sobre confissão, culpa e filosofias acerca das coisas pequenas que fazem a nossa vida ser grande até momentos de risadas que tiram o nosso fôlego de tão engraçadas que são as situações.

A Naine Terena esteve comigo dividindo o quarto e bem mais que isso, dividimos momentos e situações adversas que se não tivéssemos em sintonia, não teriamos projetado uma cumplicidade e uma amizade importante.

O Elias Yaguakãg teve intensa participação nos meus dias, me fazendo enxergar dentro de mim as minhas próprias indagações, fazendo-me refletir sobre o meu presente e o meu futuro. Me fez viver momentos que ninguém teria como repetir e me mostrou que a gente se reflete e se comunica muito além das palavras. E que o amor já existe em nós.

A Lia Minapoty esbanjou alegria em me conhecer desde os primeiros instantes, o que me fez desenvolver um profundo carinho por ela, me levando a perceber que precisava vê-la todos os dias para enxergar o seu sorriso e poder me sentir bem para tudo.

O Yaguarê Yamã comigo se mostrou sempre bem humorado, fazendo piadas e cuidando do meu bem-estar. Além de me tratar com profundo carinho, penso nele como se nos comunicássemos muito antes de nos conhecermos dessa vez. Não sei explicar, mas é muito bom.

O Roni Wasiry despertou os aspectos que eu mesma reconheço em mim, me fazendo enxergar nele, por conta das brincadeiras, do modo de lidar com as pessoas e de encarar certos acontecimentos. Ele foi também a minha alegria em diversos momentos e a minha admiração fica com ele quando fala sério sobre o seu povo, sobre o trabalho que desenvolve como professor; eu reconheço nele a essência de um indígena.

E os demais cujo o carinho nos envolveu durante os dias que passamos compartilhando momentos incríveis: Bororo, Umutina, Kayapó, Sarapó, Olívio Jekupé, Uziel Guaynê, Leandro Guarani, Rose Waycon, Carlos Tiago, Vilmara.


Minha gratidão e minha esperança de um próximo encontro.