18/06/2009

Eu tenho vontade de te ver chegando
com as mãos espalmadas me chamando
dizendo que meu caminho é longe
mas que me adora tanto que
da tua energia sou sua fonte
que temos amado mais que todos ao redor
que parece que não somos desse mundo
que jamais sentiu algo tão insumo
para eu lembrar de cada minuto que não passa
só para nossa companhia se fazer mais demorada
e de nossas virtudes sem graça
dos tetos que ficávamos a olhar
dos cheiros que tentávamos adivinhar
ao abrir a janela e dar de cara com alguém
que a nossa alegria flutuasse até esse alguém
para espalhar bem querer por aí
e fazer de qualquer um, um feliz por aí
só para ao sair de casa
encontrarmos divididos em pessoas
nossos sorrisos úmidos e satisfeitos naquela tarde
em que dormíamos mais que qualquer pássaro
sequer ouvíamos baterem à porta
e nos chamarem de amantes preguiçosos
como nossos amigos carinhosos
costumavam fazer quando acordávamos ao anoitecer
e dormíamos sem almoçar
cantávamos sem saber
estávamos por estar
e fazíamos a alegria doer

16/06/2009

se eu jamais tivesse morrido

Se eu me sentir velha
é porque já ganhei demais
é porque já fiz planos para mim
eu já chorei com alguns casais

Se eu festejar minha alegria tardia
numas tardes sem agonia
transformando rancor em folia
jamais terei o passado para trás

Se meu coração enfim não mais bater
meus cabelos caírem, minha cor sumir
sem dúvida estarei sorrindo para os anjos
dando saltos com o tempo que levei para partir

Se eu não mais tiver sentido
como nunca esqueci de querer
sem por nenhum momento esquecer
se eu jamais tivesse morrido
Pudera! Eu gostava mesmo era do teu canto
da tua presença com brilho
da tua luz alta, teus cabelos compridos
eu gostava mesmo era da farsa
quando nos púnhamos a dançar sem saber
a mexer a panela com doce a ferver
e os dedos queimados a lamber
quisera! Eu tinha mesmo era um gosto de te ver dormir
chorava sempre ao te ver partir
naqueles domingos corridos sem tostão
quando eu abolia em mim toda gratidão
para ouvir nossas vozes se repetirem
vezes e vezes num violão

eu torcia mesmo era para a chegada do inverno
quanto tu colocavas teu pé no meu
a fim de esquentar uma situação
sem saber que lá fora reinava uma estação
bom mesmo era estar com o ouvido grudado em teu peito
assim eu ouvia a quantas andava teu coração
sentia frio quando por um segundo ele silenciava
e sorria por dentro quando de fato, ele acordava.

09/06/2009

o sentimento já vale um poema

Um nascer do sol com gosto de pêra
com fruta na mão
com aves no chão
e amor na boca
Um nascer do sol laranja
como fruta
com cheiro de lua
minha mão na tua
com canção na rua
Um nascer do sol com intensidade cor de mel
com olhos num véu
para um canto de águas
deitados corpos, de cabeças pro céu
Um nascer do sol pra novo desejo
pra um simples recomeço
pra um adiante deleito
com abraço no início
e fim de um começo

Te amo como aquele céu cor-de-rosa + aquele céu azul-clarinho + aquela água esmeralda + aquela lua clara e aquele sol amarelo. Te amo como nossos corpos na areia olhando a lua e aquela fotografia de luz bonita que contém eu e você. Mais um ano! E você comigo...e eu contigo...e o sol comigo...e você com a lua.

01/06/2009

sacopenapã

numa algazarra de pardais
se ouve o barulho no horizonte
o trinado desafinado de um macuco
pode dar nos nervos de um canário, afronte
do alto da gávea os empoleirados anfitriões
socós reis daquelas nações
voavam mansos entre os mangues
velcidade sempre maior que o tempo
amigos de martins-pescadores
atobás, carapirás
todos esperando o sol descer
para quando a lua nascer
pousarem na água
para a hora do balancê
mas os peixes só nadam contra a corrente
e os pássaros maiores voam contra o vento
naquela duplicada e antiga lagoa transparente
que noutro dia em sua água salobra
encorajou-se de cavalas cheias de dentes
e numa maré vasante
as trouxeram num arrastão de rede quente
e o socó do alto do galho
como uma biruta mostrava a direção à frente

natureza remota

o céu agora está roxo
tem duas estrelas no céu
a brisa se esvái com o tempo
penumbra cobre a lua como um véu

daqui das areias vejo teu nome
do meu canto sinto as roseiras
de braços tomados pelo vento
tenho em mente uma enorme cachoeira

as pedras ali assobiam com os passarinhos
são tão cordiais quanto abrigo de casa
entre elas os peixes não viram pirão
fazem festa com o cardume que passa

daqui do alto vejo melhor o riachão
que corta a fogueira bem próxima do chão
e os ninhos caídos dali retiro
devolvo com ternura ao seio do ribeirão

nas árvores circulam seivas
as batutas brutas e elaboradas
ali uma preguia à espreita
serve de inspiração para uma noite enluarada

no mais só me sinto alegre
porque natureza é coisa demais, de pele
nasce com sensação de vida
é miragem feita com asa leve

casa poema

uma casinha de fundos
sem muros
com laguinho para um pato
jardim bem gramado
porta de madeira
embaixo da árvore:
uma esteira
cor verde-folha
as janelas viradas para o oeste
vento que vem do norte
piso sem carpete
cama perto da lareira
coruja que madruga na beira
na cozinha tem tudo
na mesa um pomar
logo ao lado:
um chão para sentar
filtro de barro
pés sem meias
nariz gelado
chá bem quente
mosquito e luz atraente
tem até cortina
banco de mestre
pinguim que se sente
azulejo antigo
inocência aparente
fogão de lenha
panela de barro
vegetais frescos
vidro fechado
no quintal toda forma é vida
verso sem rima
gente fina
curió piador
cãozinho sonhador
roupa com pregador
toalha estendida
tristeza esquecida
fotografia emoldurada
poço quebrado
beijo roubado
vozes cantando
violão tocando
arbusto molhado
brisa voando

ardently

minha veia transporta fogueira
para teu rio queimar
regozija dos nevoeiros a te seguir
mas em tuas águas límpidas transbordar
assim como enfeitiçou meu rítmo
deu-me um caminho
enfeitiçou minha alma
segura-me a fio
eu a amo
ardentemente
com toda cupidez de agora
sem a sensatez de outrora
permita-me de ti não me afastar
pois pegue-me em tua mão
beije-me porém, queira-me além
fique em minha vida como esperança
voltaremos ao início da dança
e eu te esperarei nas brumas
só para olhar de perto a tua trança, pois
eu a amo
eu a amo
eu a amo
quero-te em meus versos
não darei sorrisos se não ternos
contudo, me aceite hoje ao amanhecer
e seu dia com aurora nunca irá fenecer