24/05/2009

pequeno Solzinho

meu pequeno Sol terá cheiro de sândalo
ao despertar do sono na manhã iluminada
seu choro será brando, luz na alvorada
e seus cabelos arderão como chuva no vento
as luazinhas aparecerão no céu para chover alegria
junto com a estrela que irá segurar tua bainha
trazendo consigo a abelha rainha
e o jovem terá seu universo mágico de Solzinho
seus primeiros soluços serão afagados no meu colo
e seu parto será sempre lembrado em seu berço
perto da mamãe terá seu solstício
e seu pátio terá tantas portas a lhe abrir
que não lhe custará tampouco um bosque sentir
nos seus sonhos as borboletas sempre falarão
os passarinhos sempre cantarão
os peixinhos sempre nadarão
e seu pai sol sempre o iluminará
todas as pequenas criaturas brincarão com ele
o meu pequeno Sol será sempre sereno
suas mãozinhas serão sempre macias
a gracejarem o rosto da mãezinha sempre alegre
em sua vida primavera será sempre livre
as flores estarão sempre em festa
não haverá, contudo, pressa
muito menos água gelada, nem fantasma
seus jardins terão cores demasiadas
e seus brinquedos terão cada vez mais vida
o meu Solzinho será vivo como planta verde molhada
saberá tanto de inglês, quanto de tabuada
as suas emoções sempre constantes e achadas
saberão como ninguém encontrar a paz na madrugada
porque o meu pequeno Solzinho brincará com o vento
chorará sonetos de lágrimas amadas
o seu amor nunca terá angústia
porque em sua vida perfeita
será um poeta a distribuir seus raios
a engajar-se em palavras sadias
e toda vez que alguém olhar pro céu
celebrará com ele as suas poesias

samba à toa

eu vou fazer um samba pra te cantar
quando estiver lá no mar a navegar
porque você é meu samba escolhido
e por sua causa meu coração agora bate partido

no meu samba vou contar o que é dor
só a saudade me honra da sua presença
aqui dentro queria meu espírito perdido
e meu amor orgulhoso agora chora ferido


no meu samba vou engendrar seus fios
deles vou lembrar com afinco
e das duras madrugadas que passei sem teu calor
porque no meu afeto você pisou sem dó

no meu samba terá seu nome
para que ninguém de você esqueça
e toda vez que ele no rádio tocar
algum gelado coração no peito se aqueça

no meu samba, suas palavras terão verso
e com toda alegria de um azarão
terá um beijo a lhe fincar na mão
e você terá que fazer de sua vida o resto

o refrão do meu samba irá dizer
que você roubou de mim o chão
e que a partir da sua fuga
o mar que eu tinha em mim virou sertão

paquetá

tá bom
tá que tá
para sempre nossa
minha linda do lado de lá
por isso quero-te sempre nua
bela e crua
longe de todas as vistas
parada e estimulante ela flutua
docemente atrativa
mutuamente extravagante
que não se vê em medida de água
nem com pés altos se espera
na dura e molhada terra
ponha um movimento na fé
para lá nós fomos
de chinelos, sandálias
sorrisos, depois às lágrimas
voltamos

preconceito

senti repulsa, soluço, destreza
meus ouvidos acalentavam a solidez
dos meus punhos cerrados
do silêncio arrancado
e do meu peito fechado

logo quis dançar
ele se negou
o desagrado me ameaçou
quis chorar, tremi, depois sorri
me pus a esperar, algo em mim mudaria

chegou então o amor inteiro
primeiro, armado
orgulho
que logo se juntou ao inevitável
amado já era o instante

aquela doçura, aquele olhar cortês
suas palavras, seu tamanho
uma corte num bosque distante
mais uma vez a dança
ele pegou-me pelas mãos de paixão

feito corrente de ar
ele me sufocou, me amou sem me tocar
num simples desejo fugi dele
somente para que voltasse
e o meu amor lhe atendesse

ana protege marido-enredo

Marido, fique aí
se você se mexer
todos irão cair

Não é brincadeira, você não é de aço
assim você não desce inteiro
e eu não te aceito em pedaços

Segure firme com a mão
não ache que estou de exagero
já viu a distância do chão?

Grite se sentir que vai desabar
não se mexa nem para falar
nem se a tua calça cair

Estou indo lhe salvar
esse povo todo vai ver
por quem irei lutar

Desse jeito não tem base que segure
você desce mas não me empurre
fico aqui, e que Deus me ajude

23/05/2009

sábado morto

A primeira sensação é de desalento
quando o choro não consegue ser contido
as lágrimas sufocam meu rosto
e o desespero invade meu corpo
meu céu escureceu, tudo tremeu
meu futuro devastado
o que farei de mim?
o amparo, ombros largos, peito aberto
consolo de perto, amor doado
é ternura pura, amor diáfano
vivo comigo a explosão do medo
desconforto, tormento
afago
corpo velado, lágrimas, pavor
eu vi na placa o nome
dor
neblina, corpo cinza
dor
abraço, sentimento, calor
minha mente intransitável se despedia
e doendo a morte conhecia
deserto, afeto, apego, razão
coisa nenhuma, peço colo
estou inerte, meu dia emudeceu
atônita, a água pingava sem gosto
amor, fé, desgosto
desacredito
quero vê-lo, não quero, não chego
tenho medo
é isso, mudou, tudo mudou
me pergunto em vão
foi breve a tua dor?
mas penso
o coração dele batia tão bonito...

22/05/2009

montanhesco

foi pra lá porque era distante
ou não
porque era incostante
ou não
porque queria algo além
ou não
porque lá ele tinha alguém
ou não

foi para lá porque tinha fogo nos pés
ou não
porque dessa vez seguiria seu desejo
ou não
porque queria deixar sua rotina
ou não
porque tinha que fechar ciclos
ou não

ele foi para lá porque anseava aurora
ou não
porque desentortaria seus joelhos
ou não
porque queria sorrir para a lua
ou não
porque chutava latas na rua
ou não

ele foi para lá para conquistar algo
ou não
para voltar mais alto
ou não
para controlar sua respiração
ou não
porque tinha vontade
ou não

foi para lá para libertar-se
para agarrar-se, deslumbrar-se
porque teria uma visão
amor refrescado
ou não


Parabéns ao Abominável Homem das Neves, o descuidado cachorro cheio de dentes; o meu mais-sem-explicação desejo de criar. Junto à isso, pois então, obrigada.

daquele jeito

eu paro, olho ali pendurada a foto
você de braços abertos
pronto para abraçar o tempo
seu sorriso engole o vento

por que estar tão longe?
pois o meu medo descarrega um sonho
que me mostra um horizonte
cantando com você coisas de perto

ah! se eu pudesse lhe encostar
e dizer que lhe amo
que nunca meu desejo irá esquecer
minhas, suas palavras
meu manto

lhe vejo, lhe sinto, lhe amo
com uma agonia dupla
lindo dia de suspiros
você trouxe em mim o abrigo
pouso, meu recanto

21/05/2009

incólume

Não. Não somos apenas retratos coloridos
partidos corações jogados sem peito
nem dor que desatina sem feito
embora as cores não tenhamos como tais
foi-se o mistério do amor que não acabava mais

Fomos alegria como pêndulo na parede
criamos sensações sem medo
calor de pele, coisa de desejo
cabelo entre os dedos
beijo, boca, selo, jeito

Éramos tudo de novo
o cheiro do colo, o amor sem dono
junto nós tínhamos o céu
e perto dele já tivemos saída
só pra provar a paixão desconhecida

gente dava aposta em nós
nós dávamos, então, nós em mentes
verdades cortavam da gente, o rosto
e o amor calava sem gosto a mente deles

já que fomos aqueles sorridos
indecisos, astutos, sementes
vida nossa, minha e sua
o caminho agora é tudo, flutua

você sabe
agora é pra frente
e eu?
por agora, sou sua

15/05/2009

eu sou muito

sou um vulcão no paraíso
trem sem destino
desatino em promessa
rede de pesca
sou pavio ainda aceso
gota na estrada
beijo roubado
vidro quebrado
coisa nenhuma
grande fortuna
perda de dente
leite quente
parabrisa na chuva
mão e luva
muita coisa, coisa alguma
giz e lousa
sou nuvem carregada
extrato desavisado
livro intacto
do nada um bocado
sou mesmo uma rua sem beira
um melão na feira
de perto bem mais simples
bonita mesmo só em dias cheios
uma luz na vidraça
o sorriso na praça
um dedinho de café
um pó, um nó
um todo, uma fruta
um gole, à luta
ao chão com sossego
o aperto no peito
um corpo vazio
o presente do tio
pedras no mar
gelo a secar
natureza que brota
vitamina na hora
queda de arbusto
um susto
um tom

sou feito semente
que reza, cresce e sobe
prezo, quero tudo
sei sempre nada
sou forma
frágil
febril
uma brisa alegre
coisa leve
letra aparente
sou isso, dó
desse jeito sonso
e mais eu escuto
que não sou só
nem no minuto
e como não deixo de ser
eu sou muito

Futuro do pretérito

Se ao menos eu me lembrasse do teu cheiro
dos meus erros
das suas injúrias
daquela doçura

Se minha perna ainda tremer
e eu por ti querer morrer
meus olhos assim lacrimejarem...
e minha boca me surpreender

Ai, se eu não te fizesse partir
tampouco a porta poderia abrir
e em meus toques te repetir
como brisa em choque a repelir

Se não fosse a tua partida
a minha mão recolhida
seus braços escondidos
a dor na partilha

Se eu quisesse ainda o seu jeito
pusesse minha alma em teu peito
tivesse respeito pelo afeito meu

o céu jamais escureceria
as cadências por fim apareceriam
e tua cor faria serenata nas luas frias

14/05/2009

leonino

Eu sou um menino!
Claro, vermelho.
De coração

Sou um sábio aventureiro
Meu espelho
É satisfação

Um útil e envolvente menino
Sedutor,
À luz
Desejo

Rebelo, cuido, sou extremo
Sou ânsia, medo e guerra
Contudo sou mágica
Foco
Mudo

Parati

um encontro adorável entre corpos distantes
um vento soprado por bocas amantes
lá onde uma curva tem nome
onde o bico racha a fronte

é inteiro o desejo
que em vestígio, despejo
pra ti, ó caro amante
pra mim, ó aventura distante

lá onde o choro faz-se livros
que de gritos fez-se gritante
de alegria foi-se um monte
da lonjura que tu estão escondes

que o amor absoluto suceda
pra tua carne queimar em minha labareda
pra sua timidez guardar-te o riso
e lá em Parati eu lembrar-te isso

06/05/2009

os marginais não serão mais heróis

De todos os corajosos, fui eu o mais apaixonado; o melhor compreendido, não fui o mais valorizado, pois quis ser um horror do cotidiano contemporâneo. A idéia romântica foi-se de mim através de um grito de socorro, ninguém mais me ameaça com revoltas, o meu senso declarou-se individual e me achei como um sofredor de causas inúteis.

Por Deus que tive a sensação de engolir uma bomba, ou de receber uma mortífero antraz em meu corpo moribundo... achei até que transgredia em mim um ser acéfalo. Não. Era meu brutal medo. O medo nunca me respeitou, mas por caridade me ensinou que a espera lança um quase sonho e um desejo alcança quase o céu.

sonho com Nelson

Nelson Rodrigues um dia me disse sobre o amor, que assim como tudo, ele ia cair, o sexo ia esfriar, a dor ia sucumbir e o líquido secar. Disse ainda mais: "Tenha força para se mostrar, desejo de aprender e lágrimas para chorar. Não queira estar dentro de ninguém, querer sempre além, muito menos se encontrar". Depois dizia que tudo ia passar, o sonho se escurecer e a libido melhorar; se eu em cada vez que o olhasse, a respiração prendesse e à paixão suportasse.

[foi em sonho, direto das estrelas quentes]