30/10/2008

let the sunshine in

...O rei sol somos nós, somos tudo, somos eles com voz. Cada ser que habita em você sente o sol e a cada momento que se perde um raio, deixa de brilhar um novo calor. Por isso, entenda que você brilha sozinho, você chega até o céu, mas só é encoberto pelas nuvens se assim você deixar. Não espere vislumbrar um clarão em sua frente para só assim caminhar para ele, pois saiba que só você resplandece em seus trilhos e que abrindo as portas para um novo sol, ele brotará bem aí dentro, gritando com força e espalhando sua luz livre no espaço que você julga perder, mas que além disso, muito além disso, você tem além de você.

18/10/2008

... aí você vai até lá para se arriscar em pálidas estradas e sentir onde o vento promete cortar, para se descobrir em púrpuros raios de desejo que te concedam a liberdade. Mas a minha boca encherá a tua no primeiro brilho do sol, preencherá tua coluna arrancando teu céu e você subirá em meus galhos como sangue, enamorando-te em minhas pétalas. Ainda com o dia claro, responderá à minha paz, imaginará meus cachos em suas mãos e viverá ainda mais maduro que um fruto a força da correnteza que desagua em mim. Quando a lua aparecer, dormirá com meus sonhos, viajará pelos jardins comigo e perceberá apenas o meu cheiro. Ao voltar à luz da sua vida, terás aurora repousando em teu peito, claridade em terra firme, alimento para mais um ciclo e coragem para se fazer notar que aqui sim os pássaros cantam quando reconhecem que eu não só vivo na primavera.

15/10/2008

arrepio

Sensação do frio da tua pele com teus dentes tremendo de acordo com meus nervos.

13/10/2008

simples vontade

Ele entrou em seu quarto com passos calmos, não tinha nenhuma intenção de acordá-la, não por enquanto. Quando chegou mais perto de sua cama, não pôde ver o seu rosto, pois como era sua mania, ela sempre cobria a cabeça quando dormia. Ele então apontou seus olhos em direção às pernas dela que estavam a mostra, uma dobrada e outra esticada, como era de costume quando pegava num sono profundo de eterno cansaço. Ele percebeu que se ficasse ali por horas, ela não acordaria, então se demorou em cada detalhe daquele corpo que estava ali em exposição, um corpo que ele não via há muito tempo, um corpo que despertava desejos e saudades, porque havia um tempo que eles não se encontravam.

Admirando seus pés, ele lembrou da vez que foi massageado por algum tempo por meio deles, lembrou-se também que por muitas vezes teve vontade de engolir seus dedos enquanto faziam amor. Subiu, olhou sua perna ali em descanso, paralizada, teve a súbita vontade de pegá-la com uma só mordida e levantá-la para cima dos seus ombros, como era constante em seus delirantes atos, noite a noite. No ímpeto daquele momento, sentiu seu corpo estremecer de apetite por aquela carne e num anseio, a tocou.

Ela não acordou. Ele separou sua mão do corpo dela, pois tinha a intenção de manter-se ali por mais algum tempo, quando ela se virou causando um susto nele, que o fez saltar para trás e ensaiar uma saída rápida do quarto. Mas não, ela não acordou. Ele então pode ficar contemplando as suas costas, sua bunda, suas pernas que agora envolviam um travesseiro com toda vontade. E o domínio dos seus desejos era insuficiente para manter-se ali sem nenhuma atitude.Ele pensou no tamanho do amor que sentia por aquele corpo, e mais, no tamanho do amor que reconhecia sentir por aquela mulher ali deitada, indefesa.

Quando acordou, ela pensou no sonho que teve, pensou no último movimento que saboreou vindo daquela fantasia e voltou a imaginar as pontas dos seus dedos da mão, envolvidas pela língua dele quando se encontravam dentro daquela boca que ela, há poucos segundos, sentiu lhe tocar.

11/10/2008

O estranho amor entre a flor e o sol

Ainda quando um botão, ela o encontrou entre as nuvens e se abriu para seus raios que derramavam sobre suas pétalas luzes novas de uma manhã. Ele por sua vez, sentiu-se satisfeito ao encontrá-la desabrochando em seu resplendor e inspirou-se numa nova posição, colocando-se bem ao centro do céu, fazendo assim as pétalas de sua mais nova conhecida esquentarem.

Enquanto elas naturalmente iam se iluminando, ele assiduamente ia se esfriando. Quando as pétalas se soltaram das sépalas e enfim prosperaram, o tão ilustre companheiro desapareceu.

Então, no outro dia lá estava ele com todo o seu calor, envolvendo-as em seu clarão, infiltrando-as com sua nobreza de astro que é rei. As pétalas já formavam uma corola desenvolvida, rubra, com tons alaranjados nas pontas. Ele então sentiu-se ainda mais poderoso e pois-se ao centro novamente para colorir com intensidade todo o corpo de sua flor. Quando atingiu o limite do seu calor, ele foi esfriando e desaparecendo aos poucos, até que ela notou uma escuridão total. Mas no outro dia ele estava lá novamente, e no outro também, no outro também, no outro também.

- Sol, você me esquenta todos os dias, você me faz crescer!
- Eu só faço o mesmo todos os dias: nascer, esquentar e dormir...
- Mas eu noto que quando você chega ao centro do céu, você brilha mais forte.
- Eu só atinjo a maior potência porque é o máximo que eu posso fazer.
- Mas eu também noto que quando estou escondida por alguma folha ou pássaro, você não aparece.
- Sim, porque se eu não tiver a quem doar o meu calor, eu não brilho.
- Por mim você pode brilhar todos os dias, porque vou sempre querer tocar em seu entusiasmado raio quente...

Foi então que a flor começou a perceber que estava esquentando demais, logo de manhã sentia-se incomodada com suas pétalas pegando fogo, mas não tinha nem forças para avisar que os raios do sol estavam aquecendo demais seu corpo e se continuasse assim, não aguentaria ver seus tons alaranjados ficarem amarelinhos até ficarem da cor-se-vida. E a flor continuava definhando, suas pétalas cada vez mais quebradiças, foscas. O que era rubro, empalideceu-se por flexas amargas de sol e o que era brilho em sua breve vida, tornou-se lástima cotidiana. O sol não entendia porque a flor entristecia a cada dia, se a cada manhã ele brilhava mais e mais forte para impressioná-la. Mas se ele não entendia, ela muito menos explicaria, pois nem néctar tinha mais a dar aos seus convidados. Ele então reclamou:

- Flor, você não me percebe mais, não gosta mais dos meus raios te iluminando, não sorri mais pra mim quando eu te aqueço!
- Eu sei, sol...mas é que eu estou ficando queimada, minhas pétalas estão amareladas e as pontas já estão quebrando.
- Então você está falando que eu faço mal ao seu desenvolvimento? Que sua vida já não depende de mim?
- Não, eu só te falo isso porque é preciso que você diminua a intensidade do calor, para eu não enfraquecer diante de tanta energia.
- Se você acha assim, eu desapareço!

Foram dias e dias de céu nublado, nuvens densas, ventos fortes. A flor por sua vez, pensou ter morrido porque suas pétalas diante de tanta ventania, caíram e o galho que a sustentava, entortou-se. Desesperada ela recorreu à chuva que tentava cair e resolveu aproveitar o vento para dispersar as poucas sementes que ainda haviam ao seu redor. Quando veio a água, parecia que ela estava vivendo no paraíso, era refrescante para sua alma vegetal, era alimento pra sua vida, era vida pra sua enfermidade. Ela então voltou a crescer, com pétalas novas, nova cor, novas folhas, novo encanto. Mas, onde estaria o sol, aquele seu companheiro de vida, na qual sem ele, não seria completa, não teria amizade e não saberia o que é o calor. Ela então resolveu usar de sua elegância adquirida pela abundância de beleza provinda da água e sustentou-se exuberante sobre seu galho, no mais alto nível para ser percebida por ele e assim atrái-lo novamente para ela.

- Ah! então você está aí! mas está tão fraquinho, brilhando tão pálido...esse não é você!
- Sim! esse sou eu, só que de uma maneira mais branda, pra não te assustar. Não quero te enfraquecer outra vez.
- Mas você pode brilhar o quanto quiser, porque se eu enfraquecer, logo virá uma chuva e me revigorará!
- Mas não pretendo sumir pra você poder reviver!
- Não é sumir, sol. E sim brilhar em outras companhias, pois tem outras flores que precisam de você, assim como eu preciso da chuva.
- Mas eu sou assim, eu quero aparecer pra você todos os dias, intensificar meus raios sobre você, mesmo que algum calor sobre para as outras flores...mas pra você tem que ir todo o meu aquecimento, toda a minha imensa temperatura. Se não for assim, prefiro ficar atrás das nuvens escondido, imaginando como seria bom se eu tivesse te clareando e você me incentivando a brilhar.
- Eu posso tentar fazer com que as minhas pétalas suportem cada vez mais calor, dizendo pra elas que sem você eu não vivo bem!
- Não, eu não quero que me suporte, quero que me considere!
- Mas na verdade eu te amo!
- Me ama?
- Sim, porque você não me deu a vida, mas sem você eu não teria desenvolvido todas as cores e todos os meus aspectos de flor.
- Eu não quero o seu amor, quero te fazer viver, pra você me fazer brilhar!
- Ora, se não é a mesma coisa?

09/10/2008

a menina dança

porque seus dedos deslizam pela atmosfera livre com o vento, tomando de sedução o ar em cada canto, numa alegria inebriante de desalentos, num universo de encanto e fragmentos. que a cada volta que ela deseja dar, seu suor já escorreu por suas costas e seus cabelos envoltos por caracóis já são moldados numa espécie de arrepio. e de tanto dançar, ela encaixa seu quadril na mesma pele com o sol e pega com suas pernas ágeis os raios que ele alcança num debulhar. porque no seu ritmo já existe fogo e por ser fogo, ela não mede o movimento em partes e sim em formas, num esvoaçar de tecidos leves, que de tão leques, afastam num soprar dois corpos penetrantes.