18/06/2009

Eu tenho vontade de te ver chegando
com as mãos espalmadas me chamando
dizendo que meu caminho é longe
mas que me adora tanto que
da tua energia sou sua fonte
que temos amado mais que todos ao redor
que parece que não somos desse mundo
que jamais sentiu algo tão insumo
para eu lembrar de cada minuto que não passa
só para nossa companhia se fazer mais demorada
e de nossas virtudes sem graça
dos tetos que ficávamos a olhar
dos cheiros que tentávamos adivinhar
ao abrir a janela e dar de cara com alguém
que a nossa alegria flutuasse até esse alguém
para espalhar bem querer por aí
e fazer de qualquer um, um feliz por aí
só para ao sair de casa
encontrarmos divididos em pessoas
nossos sorrisos úmidos e satisfeitos naquela tarde
em que dormíamos mais que qualquer pássaro
sequer ouvíamos baterem à porta
e nos chamarem de amantes preguiçosos
como nossos amigos carinhosos
costumavam fazer quando acordávamos ao anoitecer
e dormíamos sem almoçar
cantávamos sem saber
estávamos por estar
e fazíamos a alegria doer

16/06/2009

se eu jamais tivesse morrido

Se eu me sentir velha
é porque já ganhei demais
é porque já fiz planos para mim
eu já chorei com alguns casais

Se eu festejar minha alegria tardia
numas tardes sem agonia
transformando rancor em folia
jamais terei o passado para trás

Se meu coração enfim não mais bater
meus cabelos caírem, minha cor sumir
sem dúvida estarei sorrindo para os anjos
dando saltos com o tempo que levei para partir

Se eu não mais tiver sentido
como nunca esqueci de querer
sem por nenhum momento esquecer
se eu jamais tivesse morrido
Pudera! Eu gostava mesmo era do teu canto
da tua presença com brilho
da tua luz alta, teus cabelos compridos
eu gostava mesmo era da farsa
quando nos púnhamos a dançar sem saber
a mexer a panela com doce a ferver
e os dedos queimados a lamber
quisera! Eu tinha mesmo era um gosto de te ver dormir
chorava sempre ao te ver partir
naqueles domingos corridos sem tostão
quando eu abolia em mim toda gratidão
para ouvir nossas vozes se repetirem
vezes e vezes num violão

eu torcia mesmo era para a chegada do inverno
quanto tu colocavas teu pé no meu
a fim de esquentar uma situação
sem saber que lá fora reinava uma estação
bom mesmo era estar com o ouvido grudado em teu peito
assim eu ouvia a quantas andava teu coração
sentia frio quando por um segundo ele silenciava
e sorria por dentro quando de fato, ele acordava.

09/06/2009

o sentimento já vale um poema

Um nascer do sol com gosto de pêra
com fruta na mão
com aves no chão
e amor na boca
Um nascer do sol laranja
como fruta
com cheiro de lua
minha mão na tua
com canção na rua
Um nascer do sol com intensidade cor de mel
com olhos num véu
para um canto de águas
deitados corpos, de cabeças pro céu
Um nascer do sol pra novo desejo
pra um simples recomeço
pra um adiante deleito
com abraço no início
e fim de um começo

Te amo como aquele céu cor-de-rosa + aquele céu azul-clarinho + aquela água esmeralda + aquela lua clara e aquele sol amarelo. Te amo como nossos corpos na areia olhando a lua e aquela fotografia de luz bonita que contém eu e você. Mais um ano! E você comigo...e eu contigo...e o sol comigo...e você com a lua.

01/06/2009

sacopenapã

numa algazarra de pardais
se ouve o barulho no horizonte
o trinado desafinado de um macuco
pode dar nos nervos de um canário, afronte
do alto da gávea os empoleirados anfitriões
socós reis daquelas nações
voavam mansos entre os mangues
velcidade sempre maior que o tempo
amigos de martins-pescadores
atobás, carapirás
todos esperando o sol descer
para quando a lua nascer
pousarem na água
para a hora do balancê
mas os peixes só nadam contra a corrente
e os pássaros maiores voam contra o vento
naquela duplicada e antiga lagoa transparente
que noutro dia em sua água salobra
encorajou-se de cavalas cheias de dentes
e numa maré vasante
as trouxeram num arrastão de rede quente
e o socó do alto do galho
como uma biruta mostrava a direção à frente

natureza remota

o céu agora está roxo
tem duas estrelas no céu
a brisa se esvái com o tempo
penumbra cobre a lua como um véu

daqui das areias vejo teu nome
do meu canto sinto as roseiras
de braços tomados pelo vento
tenho em mente uma enorme cachoeira

as pedras ali assobiam com os passarinhos
são tão cordiais quanto abrigo de casa
entre elas os peixes não viram pirão
fazem festa com o cardume que passa

daqui do alto vejo melhor o riachão
que corta a fogueira bem próxima do chão
e os ninhos caídos dali retiro
devolvo com ternura ao seio do ribeirão

nas árvores circulam seivas
as batutas brutas e elaboradas
ali uma preguia à espreita
serve de inspiração para uma noite enluarada

no mais só me sinto alegre
porque natureza é coisa demais, de pele
nasce com sensação de vida
é miragem feita com asa leve

casa poema

uma casinha de fundos
sem muros
com laguinho para um pato
jardim bem gramado
porta de madeira
embaixo da árvore:
uma esteira
cor verde-folha
as janelas viradas para o oeste
vento que vem do norte
piso sem carpete
cama perto da lareira
coruja que madruga na beira
na cozinha tem tudo
na mesa um pomar
logo ao lado:
um chão para sentar
filtro de barro
pés sem meias
nariz gelado
chá bem quente
mosquito e luz atraente
tem até cortina
banco de mestre
pinguim que se sente
azulejo antigo
inocência aparente
fogão de lenha
panela de barro
vegetais frescos
vidro fechado
no quintal toda forma é vida
verso sem rima
gente fina
curió piador
cãozinho sonhador
roupa com pregador
toalha estendida
tristeza esquecida
fotografia emoldurada
poço quebrado
beijo roubado
vozes cantando
violão tocando
arbusto molhado
brisa voando

ardently

minha veia transporta fogueira
para teu rio queimar
regozija dos nevoeiros a te seguir
mas em tuas águas límpidas transbordar
assim como enfeitiçou meu rítmo
deu-me um caminho
enfeitiçou minha alma
segura-me a fio
eu a amo
ardentemente
com toda cupidez de agora
sem a sensatez de outrora
permita-me de ti não me afastar
pois pegue-me em tua mão
beije-me porém, queira-me além
fique em minha vida como esperança
voltaremos ao início da dança
e eu te esperarei nas brumas
só para olhar de perto a tua trança, pois
eu a amo
eu a amo
eu a amo
quero-te em meus versos
não darei sorrisos se não ternos
contudo, me aceite hoje ao amanhecer
e seu dia com aurora nunca irá fenecer

24/05/2009

pequeno Solzinho

meu pequeno Sol terá cheiro de sândalo
ao despertar do sono na manhã iluminada
seu choro será brando, luz na alvorada
e seus cabelos arderão como chuva no vento
as luazinhas aparecerão no céu para chover alegria
junto com a estrela que irá segurar tua bainha
trazendo consigo a abelha rainha
e o jovem terá seu universo mágico de Solzinho
seus primeiros soluços serão afagados no meu colo
e seu parto será sempre lembrado em seu berço
perto da mamãe terá seu solstício
e seu pátio terá tantas portas a lhe abrir
que não lhe custará tampouco um bosque sentir
nos seus sonhos as borboletas sempre falarão
os passarinhos sempre cantarão
os peixinhos sempre nadarão
e seu pai sol sempre o iluminará
todas as pequenas criaturas brincarão com ele
o meu pequeno Sol será sempre sereno
suas mãozinhas serão sempre macias
a gracejarem o rosto da mãezinha sempre alegre
em sua vida primavera será sempre livre
as flores estarão sempre em festa
não haverá, contudo, pressa
muito menos água gelada, nem fantasma
seus jardins terão cores demasiadas
e seus brinquedos terão cada vez mais vida
o meu Solzinho será vivo como planta verde molhada
saberá tanto de inglês, quanto de tabuada
as suas emoções sempre constantes e achadas
saberão como ninguém encontrar a paz na madrugada
porque o meu pequeno Solzinho brincará com o vento
chorará sonetos de lágrimas amadas
o seu amor nunca terá angústia
porque em sua vida perfeita
será um poeta a distribuir seus raios
a engajar-se em palavras sadias
e toda vez que alguém olhar pro céu
celebrará com ele as suas poesias

samba à toa

eu vou fazer um samba pra te cantar
quando estiver lá no mar a navegar
porque você é meu samba escolhido
e por sua causa meu coração agora bate partido

no meu samba vou contar o que é dor
só a saudade me honra da sua presença
aqui dentro queria meu espírito perdido
e meu amor orgulhoso agora chora ferido


no meu samba vou engendrar seus fios
deles vou lembrar com afinco
e das duras madrugadas que passei sem teu calor
porque no meu afeto você pisou sem dó

no meu samba terá seu nome
para que ninguém de você esqueça
e toda vez que ele no rádio tocar
algum gelado coração no peito se aqueça

no meu samba, suas palavras terão verso
e com toda alegria de um azarão
terá um beijo a lhe fincar na mão
e você terá que fazer de sua vida o resto

o refrão do meu samba irá dizer
que você roubou de mim o chão
e que a partir da sua fuga
o mar que eu tinha em mim virou sertão

paquetá

tá bom
tá que tá
para sempre nossa
minha linda do lado de lá
por isso quero-te sempre nua
bela e crua
longe de todas as vistas
parada e estimulante ela flutua
docemente atrativa
mutuamente extravagante
que não se vê em medida de água
nem com pés altos se espera
na dura e molhada terra
ponha um movimento na fé
para lá nós fomos
de chinelos, sandálias
sorrisos, depois às lágrimas
voltamos

preconceito

senti repulsa, soluço, destreza
meus ouvidos acalentavam a solidez
dos meus punhos cerrados
do silêncio arrancado
e do meu peito fechado

logo quis dançar
ele se negou
o desagrado me ameaçou
quis chorar, tremi, depois sorri
me pus a esperar, algo em mim mudaria

chegou então o amor inteiro
primeiro, armado
orgulho
que logo se juntou ao inevitável
amado já era o instante

aquela doçura, aquele olhar cortês
suas palavras, seu tamanho
uma corte num bosque distante
mais uma vez a dança
ele pegou-me pelas mãos de paixão

feito corrente de ar
ele me sufocou, me amou sem me tocar
num simples desejo fugi dele
somente para que voltasse
e o meu amor lhe atendesse

ana protege marido-enredo

Marido, fique aí
se você se mexer
todos irão cair

Não é brincadeira, você não é de aço
assim você não desce inteiro
e eu não te aceito em pedaços

Segure firme com a mão
não ache que estou de exagero
já viu a distância do chão?

Grite se sentir que vai desabar
não se mexa nem para falar
nem se a tua calça cair

Estou indo lhe salvar
esse povo todo vai ver
por quem irei lutar

Desse jeito não tem base que segure
você desce mas não me empurre
fico aqui, e que Deus me ajude

23/05/2009

sábado morto

A primeira sensação é de desalento
quando o choro não consegue ser contido
as lágrimas sufocam meu rosto
e o desespero invade meu corpo
meu céu escureceu, tudo tremeu
meu futuro devastado
o que farei de mim?
o amparo, ombros largos, peito aberto
consolo de perto, amor doado
é ternura pura, amor diáfano
vivo comigo a explosão do medo
desconforto, tormento
afago
corpo velado, lágrimas, pavor
eu vi na placa o nome
dor
neblina, corpo cinza
dor
abraço, sentimento, calor
minha mente intransitável se despedia
e doendo a morte conhecia
deserto, afeto, apego, razão
coisa nenhuma, peço colo
estou inerte, meu dia emudeceu
atônita, a água pingava sem gosto
amor, fé, desgosto
desacredito
quero vê-lo, não quero, não chego
tenho medo
é isso, mudou, tudo mudou
me pergunto em vão
foi breve a tua dor?
mas penso
o coração dele batia tão bonito...

22/05/2009

montanhesco

foi pra lá porque era distante
ou não
porque era incostante
ou não
porque queria algo além
ou não
porque lá ele tinha alguém
ou não

foi para lá porque tinha fogo nos pés
ou não
porque dessa vez seguiria seu desejo
ou não
porque queria deixar sua rotina
ou não
porque tinha que fechar ciclos
ou não

ele foi para lá porque anseava aurora
ou não
porque desentortaria seus joelhos
ou não
porque queria sorrir para a lua
ou não
porque chutava latas na rua
ou não

ele foi para lá para conquistar algo
ou não
para voltar mais alto
ou não
para controlar sua respiração
ou não
porque tinha vontade
ou não

foi para lá para libertar-se
para agarrar-se, deslumbrar-se
porque teria uma visão
amor refrescado
ou não


Parabéns ao Abominável Homem das Neves, o descuidado cachorro cheio de dentes; o meu mais-sem-explicação desejo de criar. Junto à isso, pois então, obrigada.

daquele jeito

eu paro, olho ali pendurada a foto
você de braços abertos
pronto para abraçar o tempo
seu sorriso engole o vento

por que estar tão longe?
pois o meu medo descarrega um sonho
que me mostra um horizonte
cantando com você coisas de perto

ah! se eu pudesse lhe encostar
e dizer que lhe amo
que nunca meu desejo irá esquecer
minhas, suas palavras
meu manto

lhe vejo, lhe sinto, lhe amo
com uma agonia dupla
lindo dia de suspiros
você trouxe em mim o abrigo
pouso, meu recanto

21/05/2009

incólume

Não. Não somos apenas retratos coloridos
partidos corações jogados sem peito
nem dor que desatina sem feito
embora as cores não tenhamos como tais
foi-se o mistério do amor que não acabava mais

Fomos alegria como pêndulo na parede
criamos sensações sem medo
calor de pele, coisa de desejo
cabelo entre os dedos
beijo, boca, selo, jeito

Éramos tudo de novo
o cheiro do colo, o amor sem dono
junto nós tínhamos o céu
e perto dele já tivemos saída
só pra provar a paixão desconhecida

gente dava aposta em nós
nós dávamos, então, nós em mentes
verdades cortavam da gente, o rosto
e o amor calava sem gosto a mente deles

já que fomos aqueles sorridos
indecisos, astutos, sementes
vida nossa, minha e sua
o caminho agora é tudo, flutua

você sabe
agora é pra frente
e eu?
por agora, sou sua

15/05/2009

eu sou muito

sou um vulcão no paraíso
trem sem destino
desatino em promessa
rede de pesca
sou pavio ainda aceso
gota na estrada
beijo roubado
vidro quebrado
coisa nenhuma
grande fortuna
perda de dente
leite quente
parabrisa na chuva
mão e luva
muita coisa, coisa alguma
giz e lousa
sou nuvem carregada
extrato desavisado
livro intacto
do nada um bocado
sou mesmo uma rua sem beira
um melão na feira
de perto bem mais simples
bonita mesmo só em dias cheios
uma luz na vidraça
o sorriso na praça
um dedinho de café
um pó, um nó
um todo, uma fruta
um gole, à luta
ao chão com sossego
o aperto no peito
um corpo vazio
o presente do tio
pedras no mar
gelo a secar
natureza que brota
vitamina na hora
queda de arbusto
um susto
um tom

sou feito semente
que reza, cresce e sobe
prezo, quero tudo
sei sempre nada
sou forma
frágil
febril
uma brisa alegre
coisa leve
letra aparente
sou isso, dó
desse jeito sonso
e mais eu escuto
que não sou só
nem no minuto
e como não deixo de ser
eu sou muito

Futuro do pretérito

Se ao menos eu me lembrasse do teu cheiro
dos meus erros
das suas injúrias
daquela doçura

Se minha perna ainda tremer
e eu por ti querer morrer
meus olhos assim lacrimejarem...
e minha boca me surpreender

Ai, se eu não te fizesse partir
tampouco a porta poderia abrir
e em meus toques te repetir
como brisa em choque a repelir

Se não fosse a tua partida
a minha mão recolhida
seus braços escondidos
a dor na partilha

Se eu quisesse ainda o seu jeito
pusesse minha alma em teu peito
tivesse respeito pelo afeito meu

o céu jamais escureceria
as cadências por fim apareceriam
e tua cor faria serenata nas luas frias

14/05/2009

leonino

Eu sou um menino!
Claro, vermelho.
De coração

Sou um sábio aventureiro
Meu espelho
É satisfação

Um útil e envolvente menino
Sedutor,
À luz
Desejo

Rebelo, cuido, sou extremo
Sou ânsia, medo e guerra
Contudo sou mágica
Foco
Mudo

Parati

um encontro adorável entre corpos distantes
um vento soprado por bocas amantes
lá onde uma curva tem nome
onde o bico racha a fronte

é inteiro o desejo
que em vestígio, despejo
pra ti, ó caro amante
pra mim, ó aventura distante

lá onde o choro faz-se livros
que de gritos fez-se gritante
de alegria foi-se um monte
da lonjura que tu estão escondes

que o amor absoluto suceda
pra tua carne queimar em minha labareda
pra sua timidez guardar-te o riso
e lá em Parati eu lembrar-te isso

06/05/2009

os marginais não serão mais heróis

De todos os corajosos, fui eu o mais apaixonado; o melhor compreendido, não fui o mais valorizado, pois quis ser um horror do cotidiano contemporâneo. A idéia romântica foi-se de mim através de um grito de socorro, ninguém mais me ameaça com revoltas, o meu senso declarou-se individual e me achei como um sofredor de causas inúteis.

Por Deus que tive a sensação de engolir uma bomba, ou de receber uma mortífero antraz em meu corpo moribundo... achei até que transgredia em mim um ser acéfalo. Não. Era meu brutal medo. O medo nunca me respeitou, mas por caridade me ensinou que a espera lança um quase sonho e um desejo alcança quase o céu.

sonho com Nelson

Nelson Rodrigues um dia me disse sobre o amor, que assim como tudo, ele ia cair, o sexo ia esfriar, a dor ia sucumbir e o líquido secar. Disse ainda mais: "Tenha força para se mostrar, desejo de aprender e lágrimas para chorar. Não queira estar dentro de ninguém, querer sempre além, muito menos se encontrar". Depois dizia que tudo ia passar, o sonho se escurecer e a libido melhorar; se eu em cada vez que o olhasse, a respiração prendesse e à paixão suportasse.

[foi em sonho, direto das estrelas quentes]

26/04/2009

deejah

tu tens cheiro bom
poeta de vermelho coração
quando mais serenos juntos
já que saudade se dó na canção

nós éramos cabelos cheios de ventos
só por hoje então, viramos um e outro
do lado de dentro que te refresca
do lado de fora que te ouço

esse é um lamento de saudade
coisa que se tem mesmo sem lembrança
pois nesta vida não toquei ainda teu céu
nem tampouco dançastes minha dança

mas o que se faz quando não se pode tocar
é aumentar a dor e criar asas para lá
só pra abraçar o herói da noite tão rara
e criar um poema que fale do luar

25/04/2009

tua

de doar tanto que tornei-me tua, e
em tuas mãos quentes que imagino
a tal proteção quase nua

se doar para mim é coisa tua
se tenho certeza que em tua ausência
amor doado é o meu por tua pessoa

pois diante da ponte que nos separa
tens certeza reluzente
porque só se tem saudade o que se sente
e mais nada

foto e legenda: seblen mantovani

" Lua ténue em pedra dura"
minha sombra procura a tua nesse momento
sempre em busca de contato, um ato
mas em direção contrária
tua sombra me troca, de fato
esquecimento

verbo: precisar

eu não só me doo, preciso
não só sou motivo para recorrer
como também corro esse risco
não só dou ajuda
também desejo
não só sou você e eu
já tenho minhas penitências
eu não só ponho-te no céu
nele também tenho que chegar
não só encaixo-te em teu eixo,
é preciso contigo estar
eu não só posso por ti, ser
mas por mim preciso parar
é preciso doer para se poder deixar

10/04/2009

Palabra-lavra-lacra

De lá, e ainda, além, no acolá
Palavras soberbas transcendem
Paridas sobre um papel, acendem
Costurando-se da ascenção
d'onde se desprendem

Fugidas elas independem,
A não darem-se em um réquiem
Sem nem um porquê e nem porém
Difundem-se desde o vão
Ao preenchido, ainda que acuado tão

Solfejadas igualzito um staccato
Floreadas sabendo belas que são
Pois como um grão único em seu mundo
Em pedacitos ou adjunto como num fado
Esculturas de grãos no todo coadunado

Delas faz-se desorientado
Em suas sarcásticas orientações
Deturpadas ou ambíguas orações
Fazem-nas intrépidas iliçadas
Sendo vezes retas, vezes cruzadas

[do Dijáz Irini, pra Analu]

[invasão d'outra cabeça em terreiro alheio]

27/03/2009

Ensinamentos de Clarice por mim mesma

Foi então que pensei: Amanhã ele virá com o argumento mais irritante e exaustivamente repetido, dizendo que somos diferentes...aí afirmarei que enfim tenho sorte, pois me dá alívio pensar que o próximo amor que viverei, não será nem de longe, tampouco lembrará, aquele que vivi -quando ainda fraca e desencorajada- fui incapaz de abandonar. Eu sempre soube que merecia coisa melhor.

21/03/2009

,,dijáz! diz:

desde então, pode ser que não mais lhe veja
que não seja sua clareira
nem receba o seu perdão
que fique toda lembrança boa, e depois
o sorriso e o canto de nós dois
nessa cisma de irremediação

,,,dijáz! diz:

guarde as palavras e o pouco que dei
o cochicho e as flores que levei
faça-se a perpetuação

,,,dijáz! diz:

se foram os dias lindos n'um templo nordestino
a correria nas pistas de olimpo
capelas da arte, nosso sonho, tudo é quimera
já era, que busque sua paz n'um frio sem verão
ao se recordar, todos saberão
como dói a sua dor

09/03/2009

oratória

emitido certa vez, eu fiz
foi uma oratória em teu altar
como em tempo, preparei-me à tua pessoa
e a palavra ecoa em teu ouvido a penetrar

outro certo não estava
porque quando tu calas, eu desapareço
e quando acordas: transpareço.

então tu te revelas para mim
cobre minha visão para o nada
e me farta do mais preenchido calor
o mais que amor através de ti

quando falo por tua essência
e desfiguro sua alma, pálida
tu te encontras no meu espírito

então tu te revelas para mim
cobre minha visão estragada
e me farta do mais preenchido amor
o maior calor então destinado

05/03/2009

a nova

gaiola enferrujada
encrenqueira como ferro o é
arteira em má fé, inimiga
quem diz que não é?
se peneira a alma
bota em jaula o sol
lá fora, um pêndulo n'um prego
quando se movem as asas
um só descuido e se dá ao chão
circensse e aterrorizante
faz aqui e acolá, um suspense
será que cai? será que vai?
e rambora como as saltitantes amoras
coloridas e doces, não há melhor
se apavora igualzinho a quem é só
e não, nem um pouquinho namora

só pra desfazer o que já era doce
então pega o que cái, assopra
é seu, quero que saiba
e nada mais é antes
porque o agora já é sempre

no prego penduro um antúrio
o vento prega uma peça, inventa, já é hora
existe natureza em ti, me namora?
depois quando voltar, um abraço de apertar
assim livre, quero o toque a sentir, tende a me soltar

já em cárcere não me tenho
tenho em dobras minha prezada aurora
como se nela fosse algo mais que além
tu com asas prontas a voar (nunca se apavora)
tomo de assalto a liberdade outrora



de Dijáz Irini e Analu

01/03/2009

medo alegre

Talvez eu tenha desejado demais te encontrar inteiro, primeiro, por perto. Quem sabe entre as poucas cores tu desejava encontrar-me, para prender-me entre fios e dentes, sabores quentes teus, luzes minhas e tuas; seres teus e nossos.

Que começo breve foi o vosso, que textura sêca é aquela, todas as luas guardadas, novas imagens ternas anunciadas, quereres imensos esperados.

Abrevio tua volta nos sonhos meus acordada, nas palavras longas escritas e nas tuas frases deixadas. Pra seguir-te entre os montes, chego a avaliar o tal cansaço pela subida em nuvens brancas e teu olhar bem fixo no horizonte. Meu passo segue o teu, tua mão pega a minha, minha vontade já é tua e teu retorno já é breve.

Porque dá alívio quando sei que são pequenas as horas, são belos os dias e é curta a viagem. De tempo em tempo fico a pensar: "que medo alegre, o de te esperar"

08/02/2009

coisas dele

"Estou andando rumo ao novo e busco tudo que ainda não conheço, sinto já o cheiro do que ainda serei e ouço a música que festeja o meu sucesso. Eu tive uma intuição: era para ir aonde estivesse mais quente - mais quente de vitória, mais suave para os erros e que eu pudesse inventar a minha mais especial história. Então fui em direção ao sol com a intenção de que tudo que eu imaginasse e tivesse certeza que eu queria, fosse brilhar tanto quanto ele próprio. Quis contar-lhe que eu já sou e ainda serei mais; quis cantar-lhe uma distante canção que já entoava ali no vento para agradecer-lhe esta razão..."

retórica da floresta

... que joga suas palavras para o alto e insiste que caiam em suas folhas, escorreguem pelos caules e encontrem repouso nas raízes ásperas e sozinhas em seu recanto. A floresta adota a vida simples em seu romance com seus gloriosos e serenos habitantes; o amor e o tempo. Retrato de uma canção num tom e um som à margem do vento. Ela conta a sua história, lamenta seus troncos caídos, mas oferece ao espectador uma elegância soberana que a representa em arte. Para quem nela penetra, faz-se secular todos os sentidos antes ignorados, orienta ao rumo certo sem a existência dos medos e continua a narrar uma bela paixão que acontece entre a terra e o luar. No ímpeto, quando a luz do sol ignora os obstáculos e adentra em sua alma que produz clorofila, ela releva a morte das folhas no sereno, medita sobre a beleza das úmidas cascas e conta para a noite uma perfeita cadência vivida todos os dias, na essência daquele lugar.

30/01/2009

ao amante da montanha

Eu quero mesmo é que tua memória derrame os contos antes cantados e declame para si o escândalo que sentes agora. O que é abundante não recusa a luz do rei sol, mas enfeitiça os laços - inspira em galhos - a simetria compartilhada de um postal; com a delicadeza que no âmago interpreta em foco a lisa e clara (presente do céu). Depois tu semeia, floresce, flutua, dispersa...voa! Meu peito feminino apertado te orienta e nele tu deita...suspira...e dorme.

29/01/2009

pequeno fragmento

...o cheiro da planta verde-oliva, o ruído das folhas se batendo umas contra as outras, o zunido do pequeno besouro indo de encontro à parede e vênus lá de cima iluminando a grama; só me fazem acreditar em meus sentidos aguçados, que meu corpo pede um instante, que meu estado é inebriante. Daqui até o abacateiro são oito passos, mas minhas pernas descansam pousando em fino tapete porque estou a salvar meus curtos cabelos do vento...

13/01/2009

...sonhei hoje com ele caminhando, olhando pro alto, deixando seus cabelos esvoaçarem pelo vento, sorrindo por causa da liberdade; coluna ereta, pernas firmes, coração saltitante. Ele assobiava uma música de sua arca encontrada bem no fundo das suas lembranças e dizia em tom mudo: "tem alguém a me receber, a me querer e a me esperar; tem alguém a me enxergar, a me encontrar e a me erguer."

11/01/2009

tão-tão

,coisa tão, tão vosso, nosso meu, tão teu, nada disso, tudo aquilo, seu e meu, aquele e eu, tão sempre, tão ausente, tão quente, tão quase, este tão, não são, tem tudo, perde todo, tão esse, fosse aquilo, foste meu, era também, tão grande, tão perto, muito tão, tão-tão.


ainda nasce e tão quão são será o perfume do botão que tãotão é também flor se rosa for é bom são bons em mão senão em peito tão corazón que são resoa e rezam não em vão ao tãotãotão que então terão em seu verão.



analu e dijaz

05/01/2009

lábia para dijah

... E ele com suas vastas palavras me consolou, fez subir aos céus, pegar um pedaço de nuvem, jurar amor pra sempre, equilibrar as lágrimas no rosto e suspirar pisando na terra...povoou minha memória com tristes distâncias iminentes e assim imergi em sonhos tingidos e inacabados. Trouxe-me poesia em verso como o pó de todas as estrelas e enxugou minha lamúria com sua boca terna.

tu e ela

Agora somos só nós dois, tu e eu
meu corpo já te sente, meu pé pisa em parte tua
sempre quis tocar em tuas brancas neves
e deixar minhas digitais marcadas em tua pele nua

Olhando como teu horizonte é longe
é que vejo que minha direção na tua continua
porque em ti espero encontrar-me e minhas nuvens empalidecer
é porque tu és crua e a espera de mim faz-te enriquecer.

Equilibro-me então em minhas pernas acima do bem querer
quero só conquistar o teu teto, marcar meu nome e o resto
então cravar toda coragem que me resta em tua base curta

Pois é isso que te sinto, meu mundo novo a conseguir
correndo para os seus braços, vastos abraços, rumo novo a seguir