01/01/2011

ainda o mesmo mundo

Acordei e ainda era o mesmo mundo, sem prumo, exigente. Ele sim existe, mas por que não de jeito diferente? Quero aquele mundo da minha imagem-ação que quando toco se desfaz em realidade, retira de mim a fala e recarrega em meu anseio por motivos, a estrada. Exaspero-me em lentidão, talvez seja reação, contudo se me permite eu sou um luto por visões antigas, já não me apeteço por coisa pouca porque sou inteira e o mundo é sério, silencioso e rigoroso. Acontece que se deslumbro em permanência, entrego-me mesmo sem me possuir, eu mudo porém, eu luto porém. Sem saber que futuro é esse tão atingível, pertenço em conjunto e vou me doar então sem saber o lugar que fará de tudo um céu de imensidão e de transporte até o que sinto pra mim, diante de mim, por sensação.

galhos e sementes

Procuro expandir-me aos arredores e estancar no meu sangue as perspectivas para o que me proporciona a seguir. Tenho até grandes expectativas, mas por isso não me acredito somente em sonhos. Preciso ser, preciso me conter, além de sentir, preciso estar. Eu celebro a minha festa que tem nome de crise, mas se ela só acontece internamente, nada tenho a desmentir sobre os meus próprios sentimentos, pois são eles encantos, desafios, desenganos, são tantos. Não descarto a espera porque sinto como gente, respiro feito árvore, eu tenho semente e pertenço aos meus galhos. Tenho atos, detalhes, permissões; tenho quase a perfeição que transpõe-se no organismo em forma de escolhas, de envolvimento; é sangue, é mudo, contudo, não é lento. Quero contato com novos braços, quero espaço para me dilatar para o mar, enxergar no fundo o meu desejo de transformação, quero ação, tenho porém a certeza que me leva, que me solta, me afoga, ela me sustenta. Há necessidade de atravessar e embarcar em novos destinos, de experimentar novos sabores, sentir o valor da real existência, pois minha sobrevivência: a concisão, me livra dos apegos e serei novos ensejos, cuja bela sucessão me festeja aqui dentro a parte que me cabe sem objeção. Agora tenho no interior do tronco um objetivo, pois dele retiro, me agito, constato e saio sem exatidão; meus ramos são fortalecidos num todo e permanecem sugerindo alguns laços a serem apertados e, quem sabe estes encontrem os grãos e por isso me façam germinar numa nova terra.

ritmo contingente

Se me detenho em vontades precárias é porque me consolo por dentro em alegrias promissoras. É tempo de encarar-me pelos rumos e saltitar em caminhos distintos, porém colhidos em tempos sortidos que me trazem à sombra. Me lembro de quantos arrepios senti ao suspirar esperanças tardias, ao me transportar em momentos inoportunos, mas o que desejo hoje é saborear a infinidade de goles que tem a vir ao meu encontro para me fazer resgatar dos sonhos a tranquilidade que é viver. Nada de embaraços ou entraves, o que me fortalece dessa vez é a sensatez, o cuidado, o amparo; se de certa vez eu me dispuser sempre que tentar por entre as frestas enxergar novos sentidos.

coisa de ligação

Tu aí sentado, emaranhado entre goles e afins, tu que não dorme, que se movimenta e transcende a madrugada. Engendrado, tampouco acariciado, transcreve em linhas fortes o que se faz desejo quando do outro lado, cá estou de vestes púrpuras a esperançar tua vinda, minha cruz. Logo se encontra em tua cama e apronta mais um desatino, é medo de espinho, é pensamento de pecado; pois identifica entre os dedos a vontade de enxergar através de um mágico olho, o futuro exagerado de um signo explosivo e travado em socorro. Tua distância é mínima quando penso em presença, tua essência, um abraço na fotografia definida como a única constante de um relacionamento sentido.

Onde o silêncio mora

Em uma palavra que de tão só clareia, não seja a tua predileta
pois de tão dias de cor, seja nesse instante uma que impera num rito festivo,
casando a tua terra com meu universo inventado.
nesse instante
impera
um rito
e a casa
de grito
soluça a dor
o rio coberto é puro
e partilha letras faladas na beira
ela levita procurando uma forma de se mostrar
cultiva cada fragmento antes infundado
inspirado em peitos de amor
A palavra transmuta pendências, cria certezas e coexiste
afaga, pois te pondera e enxerga como minha cria
Me oferece a alegria da tua boca
acontece para me fazer viva
some com os erros
brinca com os verbos
bebe as respostas simples
ela espera
ela prospera
tu a enaltece
ela engrandece
quando emociona em pios, posiciona a coragem a sair da tua forma
o que tranquiliza a espécie e então percebe que amanhece
uma porção equaliza, canta pro teu dia
equilibra os anseios
festeja em pleno valor
soa
sua
pulsa
germina
A palavra cultiva
cultua
está nua
então estanca
ela te merece
ela carece
se dedica de dúvida
de súplica
some a estampa
encara a fonte, embebeda-se dela
permanece entre as pausas
e ilude quem passa
Ela, a palavra: joga
te solta
encoraja e sofre
pois me ganha
porque mostra
e te norteia
permeia
tateia
traz
Uma palavra que leva a cura
suga os vícios
beija de horizontes
ela expõe, compõe
celebra
por ela surpreende a omissão
quando orienta e toma a ilusão
A palavra que permite caminhar por entre os fios
passeia em teus cantos
ela caminha
ela acompanha
ela me acha
Te firma, acaba
tortura: enclausura
estreita as margens
distancia de segredos, potencializa desejos
Palavra essa que aproxima uma asa
fala porque sente
lê teus movimentos quando doa e se despede
ela esquece
a palavra que sorri
ela que te acalma, apara
tua sêde me acolhe
na palavra que me oprime
falece, não
cresce!
pois enterra, molha?
palavra não desenha
imagina
intimidade coage, conspira
defende as sílabas que são trocadas
pronta, ela cái
contesta e assim recria
a palavra balança
abraça a permanência
faz de guia uma solução
te aquece
te constrange
me obriga
ela calibra
transfere
sopra tuas ventas
olha em minha direção
amplia o sentimento, significa a paixão
ela delira
uma palavra silencia