28/04/2011

Sintonia com a intuição

Por vezes não se tem a certeza. Por ora, é essa falta e essa dúvida que traz o universo que é a intuição. Grandes momentos já foram privilégios dessa sintonia consigo, porém, coisas que decerto não são palpáveis tornam-se quase impensáveis quando o pensamento lhe diz algo não em vão. Um chamado seu para você mesmo é o que determina a situação. Pode-se buscar alternativas, pode-se até fazer outras escolhas, mas quando o berro que há em você praticamente te sufoca, é a hora de dar crédito ao poder que tem a intuição. E por que muitas vezes não damos o real valor que temos da consciência própria? Sabemos que muito de nós é criado por fatores externos, mas daí a nos deixarmos tomar de um jeito a nos limitarmos a escutar a voz que é alta e não o sussurro que explode dentro de nós é praticamente um renuncio das fiéis considerações internas.

Reflorestando-me

...Foi por pouco que não me deixei desmatar por inteira. Quando percebi que o frio que sentia não era do tempo e sim pela falta dos meus outros braços, suspendi o ataque, reconheci minha capacidade de reviver e me segurei com tudo às teias, que ainda muito fracas, me envolviam. Foi por precisar de apoio que me pus a erguer em gritos e, por estar grudada naturalmente à minha terra, me alonguei em direção ao céu e providenciei logo uma disposição do avivamento. Já tinha entrelaçadas em mim algumas sombras, só precisei utiliza-lãs intuitivamente a fim de me sentir apta novamente a sentir o calor da selva. Se eu tinha uma janela de possibilidades para me animar, tinha em mim também o prazer de frutificar. Me tomei de poder, me fortaleci e enxuguei o suor que escorria feito alma por fora de mim. Cri que envelheci. Mas o fluido era tanto que de nada me privei, finquei mais forte as rizomas soltas, proporcionei assim um novo direito de fazê-las crescer. E foi assim, sem perder mais sorte, sem desaguar, que eu voltei a dar vida aos meus galhos, pois mesmo vendo todas as folhas secas em volta de mim, pensei e recriei um jeito menos sombrio de entender o motivo pelo qual elas haviam caído.

Todas as coisas são pequenas

“Todas as coisas são pequenas” é o título de um livro do escritor indígena Daniel Munduruku. Tal frase heróica me salvou de pensar que eu pudesse ser julgada por pensar pequeno. Aboli a idéia de que inexistia em mim a ambição e reconsiderei então a minha inserção no mundo onde coisas simples, porém importantes, significavam uma identidade essencial da busca severa da minha personalidade digna. No livro, um homem que dava muito valor aos aportes financeiros e sucumbia à futilidade, sofreu um acidente que o deixou perdido num mundo sufocantemente desconhecido, o da simplicidade. A compaixão que ele encontrou, esta oriunda de pessoas-chaves e amorosamente simples, o fez se encantar e acreditar nos valores antes desconhecidos que até então ele repelia, mas que, por sua vez reconhecidas, o fazia ter outra visão privilegiada sobre o repente que é testemunhar esperançosamente uma lição.

Com isso, já salva da culpa que eu sentia por entender que o exagero em cima das coisas simples as tornavam bem maiores e me fazia sofrer, me senti livre para confessar que dou sim valor real às coisas e entendo que não supervalorizo nada, mas que sei exatamente a grandeza das coisas ditas como pequenas e que me trazem liberdade ao sentir.

Quando se compreende que o amor pelo que existe dentro de um ser, além de ser possível passar adiante é incontestavelmente maior que tudo o que se pode comprar, é que se re-conhece o mundo incrível que temos dentro de nós. O poder infinito que vem do interior proporciona um desejo imenso de recriar externamente, mas naturalmente, todas as coisas julgadas pequenas que por algum motivo nos fazem crer que são de mais valor. Entendamos que acreditarmos num sentimento próprio é algo que não se força, acontece. Habitualmente nos fazemos lutar contra o que trazemos de dentro pra fora, mas, diante disso, sofremos indiscutivelmente muito mais.

Compreender que o universo de todas as coisas é do mesmo tamanho devido à proporção que criamos para elas é o que nos faz crescer diante de tudo que ainda podemos encontrar. Supervalorizar é abrir espaço para esperar cada vez mais. E a expectativa abre espaço para decepção. Se não há a espera sobre o valor de determinadas coisas, então encaramos os pertences da vida como únicos e simples, vivemos melhor, assim somos mais agraciados pelo espírito, somos presenteados com a verdadeira sensação de liberdade.

27/04/2011

Mekukradjá

Está no sangue. A essência não deixa negar e a incrível sabedoria ancestral que o índio carrega é algo sagrado que ele transforma em ensinamentos que fervem e não cabem somente em si. Ter uma alma carregada de leveza e sentimentos acerca da vida e da maneira de encará-la, imediatamente inunda o ser em sua presença que o faz frutificar e reverberar a liberdade diante da rica natureza que nele existe. Parece que o berro de sensatez que nele pertence, promove um tipo de relaxamento habitual, pois tudo se torna palpável de maneira natural; é intrínseco, de modo que não se prepara um discurso, as palavras delicadas saem num sopro de verdade e promovem ao próximo que possui a sensibilidade de escuta e reconhecimento, um domínio real sobre suas idéias.

O conhecimento sobre sua família, o respeito diante de um parente e o espírito de força comum, não precisam ser solicitados, está implícito, está impregnado na evolução e é notável a cada história que possam contar. O amor à terra, a união dos irmãos, a visão simples e natural; atraem espontaneamente a vibração e os olhos às vezes alheios à cultura do outro. Sabedoria se adquire muitas vezes, mas sinto que essa sabedoria é algo tão doce que parece absorvida instantaneamente quando um índio nasce. Os princípios se fazem de forma diferente, os quereres são diferenciados, as expectativas para o mundo são menores e o convívio com os demais é ainda assim melhor aproveitado.

Pense na paz. Um espírito indígena a carrega onde nunca precisou buscá-la, pois adquiriu dos seus ancestrais a maneira forte de se curar de sentimentos impróprios através da apropriação do bem que lhe foi passado. Sua contribuição para o bem estar de um ser que dele se aproxima é apenas a sua presença pacífica, que não quer mudar nada no outro, parece possibilitar a transcendência da forma física. Se alguém procura viver, ter, sentir a paz, é preciso aprender com a sabedoria de um índio que todas essas formas não estão em livros e nem se aprende com o passar dos anos; pois é um costume profundo de povos que evoluíram já vivendo e sentindo o que se passa adiante.