21/12/2010

Conversa com o amor

Eu lhe procurei numa tarde quente onde o sol queimava minha pele e a minha alma clamava por alguns versos. Tais versos não podiam ser de um verão qualquer, tais versos nos sufocam quando não temos a palavra do outro que possa nos cercar e nos tomar de prosa antes calada. Somente a tua expressão me concede a inspiração, ou seria o inverso? Teu inverso me faz transpirar as palavras quase sêcas de uma tarde aparentemente nada chuvosa. Quando eu sumo, não quer dizer que eu me oculto, pois, contudo, lhe apareço nos versos narrados da boca pra fora, onde só o teu sussurro me bebe de satisfação.

Eu me sinto mais livre quando te enxergo daqui, como nos velhos tempos. Antes nós nos deixávamos em lágrimas, você lembra? Era tanta poesia do nada que até mesmo um ponto virava motivo de uma prosa. Éramos tão poéticos, tão soltos...um par.

Um par boêmio de pessoas incansáveis, que em todas as noites saía para vislumbrar no vento, momentos ainda mais esperados que aqueles antigos para nós. Até soluçávamos de tanto rir e somente uma vez soluçamos de tanto chorar, pois foi quando nos debruçamos a cantar alguns enredos que nos lembravam a nossa proximidade tão vulgar.

Aliás, motivos para chorar nós tínhamos, e muito. Sentamos certa vez em um barco lá em Parati e quisemos ficar quietos por uns minutos, logo então desatamos um nó e partimos para o choro enraizado em emoções profundas que só podia ter acabado em sorrisos. Foram lembranças vagas de uns pensamentos alheios, tivemos certeza que pensávamos quase igual e que nos debulhávamos por coisas bem próximas e algo bem incomum.

Nessa mesma noite, ainda de madrugada, expressamos a vontade num poema, este de causas ocultas, mas recheadas de oportunidades distintas. Sei que se lembra dessa noite, pois quando amanheceu o dia, você fez um poema sobre a tal madrugada e engendrou-me uma inspiração antes nunca tentada, foi sem receio, em disparada.

Quanta coisa nós já desbravamos, não? Poesia sem palavra, versos sem chão. Viagem desavisada, distância escorregadia, poemas em vão. Já até nos perdemos, dos detivemos, nos impressionamos, mas nos amamos, nos tivemos. Sim, nós tivemos, assim como agora, um ao outro, um pelo outro para o fim de uma prosa.

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