11/10/2008

O estranho amor entre a flor e o sol

Ainda quando um botão, ela o encontrou entre as nuvens e se abriu para seus raios que derramavam sobre suas pétalas luzes novas de uma manhã. Ele por sua vez, sentiu-se satisfeito ao encontrá-la desabrochando em seu resplendor e inspirou-se numa nova posição, colocando-se bem ao centro do céu, fazendo assim as pétalas de sua mais nova conhecida esquentarem.

Enquanto elas naturalmente iam se iluminando, ele assiduamente ia se esfriando. Quando as pétalas se soltaram das sépalas e enfim prosperaram, o tão ilustre companheiro desapareceu.

Então, no outro dia lá estava ele com todo o seu calor, envolvendo-as em seu clarão, infiltrando-as com sua nobreza de astro que é rei. As pétalas já formavam uma corola desenvolvida, rubra, com tons alaranjados nas pontas. Ele então sentiu-se ainda mais poderoso e pois-se ao centro novamente para colorir com intensidade todo o corpo de sua flor. Quando atingiu o limite do seu calor, ele foi esfriando e desaparecendo aos poucos, até que ela notou uma escuridão total. Mas no outro dia ele estava lá novamente, e no outro também, no outro também, no outro também.

- Sol, você me esquenta todos os dias, você me faz crescer!
- Eu só faço o mesmo todos os dias: nascer, esquentar e dormir...
- Mas eu noto que quando você chega ao centro do céu, você brilha mais forte.
- Eu só atinjo a maior potência porque é o máximo que eu posso fazer.
- Mas eu também noto que quando estou escondida por alguma folha ou pássaro, você não aparece.
- Sim, porque se eu não tiver a quem doar o meu calor, eu não brilho.
- Por mim você pode brilhar todos os dias, porque vou sempre querer tocar em seu entusiasmado raio quente...

Foi então que a flor começou a perceber que estava esquentando demais, logo de manhã sentia-se incomodada com suas pétalas pegando fogo, mas não tinha nem forças para avisar que os raios do sol estavam aquecendo demais seu corpo e se continuasse assim, não aguentaria ver seus tons alaranjados ficarem amarelinhos até ficarem da cor-se-vida. E a flor continuava definhando, suas pétalas cada vez mais quebradiças, foscas. O que era rubro, empalideceu-se por flexas amargas de sol e o que era brilho em sua breve vida, tornou-se lástima cotidiana. O sol não entendia porque a flor entristecia a cada dia, se a cada manhã ele brilhava mais e mais forte para impressioná-la. Mas se ele não entendia, ela muito menos explicaria, pois nem néctar tinha mais a dar aos seus convidados. Ele então reclamou:

- Flor, você não me percebe mais, não gosta mais dos meus raios te iluminando, não sorri mais pra mim quando eu te aqueço!
- Eu sei, sol...mas é que eu estou ficando queimada, minhas pétalas estão amareladas e as pontas já estão quebrando.
- Então você está falando que eu faço mal ao seu desenvolvimento? Que sua vida já não depende de mim?
- Não, eu só te falo isso porque é preciso que você diminua a intensidade do calor, para eu não enfraquecer diante de tanta energia.
- Se você acha assim, eu desapareço!

Foram dias e dias de céu nublado, nuvens densas, ventos fortes. A flor por sua vez, pensou ter morrido porque suas pétalas diante de tanta ventania, caíram e o galho que a sustentava, entortou-se. Desesperada ela recorreu à chuva que tentava cair e resolveu aproveitar o vento para dispersar as poucas sementes que ainda haviam ao seu redor. Quando veio a água, parecia que ela estava vivendo no paraíso, era refrescante para sua alma vegetal, era alimento pra sua vida, era vida pra sua enfermidade. Ela então voltou a crescer, com pétalas novas, nova cor, novas folhas, novo encanto. Mas, onde estaria o sol, aquele seu companheiro de vida, na qual sem ele, não seria completa, não teria amizade e não saberia o que é o calor. Ela então resolveu usar de sua elegância adquirida pela abundância de beleza provinda da água e sustentou-se exuberante sobre seu galho, no mais alto nível para ser percebida por ele e assim atrái-lo novamente para ela.

- Ah! então você está aí! mas está tão fraquinho, brilhando tão pálido...esse não é você!
- Sim! esse sou eu, só que de uma maneira mais branda, pra não te assustar. Não quero te enfraquecer outra vez.
- Mas você pode brilhar o quanto quiser, porque se eu enfraquecer, logo virá uma chuva e me revigorará!
- Mas não pretendo sumir pra você poder reviver!
- Não é sumir, sol. E sim brilhar em outras companhias, pois tem outras flores que precisam de você, assim como eu preciso da chuva.
- Mas eu sou assim, eu quero aparecer pra você todos os dias, intensificar meus raios sobre você, mesmo que algum calor sobre para as outras flores...mas pra você tem que ir todo o meu aquecimento, toda a minha imensa temperatura. Se não for assim, prefiro ficar atrás das nuvens escondido, imaginando como seria bom se eu tivesse te clareando e você me incentivando a brilhar.
- Eu posso tentar fazer com que as minhas pétalas suportem cada vez mais calor, dizendo pra elas que sem você eu não vivo bem!
- Não, eu não quero que me suporte, quero que me considere!
- Mas na verdade eu te amo!
- Me ama?
- Sim, porque você não me deu a vida, mas sem você eu não teria desenvolvido todas as cores e todos os meus aspectos de flor.
- Eu não quero o seu amor, quero te fazer viver, pra você me fazer brilhar!
- Ora, se não é a mesma coisa?

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