23/09/2013

O homem no cariri

As ruas muito cheias de pessoas que eu nunca consegui reconhecer, os barulhos vindos de todos os lados que eu nunca consegui distinguir, o não gostar de alguma coisa que eu realmente nunca consegui definir...isso tudo, meu amor, era um comichão dentro de mim. Passei a vida inteira pensando em entender o porquê de eu não me encontrar nesse mundo, o porquê de não me encaixar e de estar sempre em outro rumo. Minha querida, foram anos da minha vida querendo ser reconhecido e bastou alguns dias para que eu mesmo me reconhecesse. Talvez, o meu passado fosse tão distante que eu merecia mesmo me despejar em um lugar onde os fósseis são protegidos, estudados e ainda não decifrados. Eu merecia essa viagem, eu merecia perceber meus ancestrais (os mais distantes possíveis) para que eu conseguisse interpretar de forma plena e extremamente sedutora a minha história de vida ligada à arte. A minha vida é arte, mas aqui sou reconhecido como gente que inunda o coração e as mentes de outras pessoas com o que eu sempre soube fazer: Levar a luz! Mas eu não estava levando a luz para as pessoas certas, ou as pessoas certas não haviam ainda entrado no meu caminho para que eu pudesse ser iluminado e, com isso, sentir-me refletido nelas. Eu sou um ser pré-histórico, minhas descobertas só podiam estar em um sítio arqueológico, minha identidade agora está aqui nas pedras com figuras em baixo relevo, estampando de vez o meu lado humano, retirando de mim o fóssel, me resgatando de vez para esse lado mundano.

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